O que o maior estudo com consumidores reais revela sobre o uso de CBD?
O ganho de qualidade de vida e bem-estar é enorme, como já era previsto, mas as condições de uso trazem algumas novidades imprevistas. Veja mais detalhes no texto.
Publicado mês passado na Frontiers in Pharmacology, esse estudo é o maior levantamento recente feito com consumidores reais de produtos de CBD vendidos sem prescrição na Alemanha. Com mais de 200 participantes, ele joga luz sobre padrões de uso, percepções de eficácia e até onde o placebo pode estar agindo.
Mas o mais interessante? Ele revela uma verdade que a ciência clínica ainda custa a aceitar: na vida real, os pacientes tomam menos CBD do que nos estudos — e mesmo assim dizem se sentir melhor.

Quem são esses consumidores?
Ao contrário do estereótipo jovem-curioso, a maioria dos entrevistados tinha entre 41 e 60 anos. São adultos experientes, muitos com histórico de doenças crônicas e busca por estratégias de bem-estar.
Eles usam CBD de forma contínua: 78% relataram uso por mais de 3 meses, e metade toma diariamente. Mas poucos, quase nenhum, recorrem a orientação médica. As principais fontes de informação? Estudos científicos, fóruns online e o material das próprias marcas.
Como usam?
Mesmo na Alemanha, onde a venda de flores de cannabis é permitida, o formato mais popular continua sendo o óleo sublingual — seguido por cápsulas, chás e cosméticos. Produtos como gummies ou flores estão longe de liderar.
A maioria usa concentrações entre 10% e 20%, com uma dose que equivale a algo entre 50 mg e 150 mg de CBD por dia. Isso é muito abaixo das doses usadas em estudos clínicos controlados que costumam passar de 300mg por dia para efeitos mais evidentes. E mesmo assim, os relatos de melhora são quase unânimes.
Mais de 85% dos usuários afirmam que o produto é “efetivo” ou “muito efetivo”. E isso não variou muito com a dose, nem com a frequência de uso. Curiosamente, quem usava “quando necessário” relatava mais benefícios do que quem usava todo dia.

Para que usam?
As indicações mais comuns foram:
Dor (aguda, crônica, muscular, nas articulações)
Transtornos de humor (ansiedade, depressão)
Distúrbios do sono
Estresse e “nervosismo”
Prevenção de doenças e melhora do bem-estar geral
Quem usava para dores relatava melhora na dor aguda e crônica. Quem usava para humor, relatava melhora no sono, redução da ansiedade, mais estabilidade emocional e menor percepção de estresse.
Por outro lado, quem buscava alívio para limitações de movimento relatava benefícios mais leves — possivelmente porque essas condições responderiam melhor a tratamentos que também envolvem THC.
Expectativa e placebo: onde entra a crença?
Um ponto crucial do estudo foi mostrar que quem já acreditava nos benefícios do CBD teve mais efeito. E quem duvidava… teve menos. Isso levanta a clássica questão: foi o CBD ou temos um efeito placebo também?
A verdade é que ambos podem estar agindo juntos, afinal a mente interfere na saúde do corpo. A expectativa positiva ativa o sistema endocanabinoide — o mesmo alvo farmacológico do CBD. Ou seja: expectativa e efeito biológico podem se somar, especialmente em sintomas subjetivos como dor e humor (ansiedade/depressão).

E os efeitos adversos?
A boa notícia: 72% não relataram nada de efeitos adversos. Entre os 28% que sentiram efeitos, os mais comuns foram boca seca, cansaço leve e, em menor grau, olhos secos ou náusea. E isso apareceu principalmente em produtos com altas concentrações (acima de 200mg/ml) e em doses além do padrão de uso. Mesmo assim quando ocorreram mais de 70% se resumiu a cansaço e boca seco. Nada sério.
Uma dicotomia entre a prática e a clínica
Esse estudo reforça o que muitos profissionais já observam: há um abismo entre os dados dos ensaios clínicos e a realidade do balcão. Enquanto estudos formais apontam que o efeito do CBD aparece a partir de 300-600 mg/dia, na prática, os consumidores relatam melhora com doses três a seis vezes menores, como eu mesmo já documentei em um dos meus artigos mais conhecidos (já lido por 115 mil pessoas) e é que citado pelos autores.
Esse “gap” precisa ser levado a sério. Não como uma falha, mas como uma oportunidade: talvez estejamos o CBD com régua de medicamento comum e esquecendo que parte do seu efeito está em como ele é usado — e não apenas na dose. Ou… a boa e velha questão da composição. Alguém falou efeito comitiva?

Conclusão
O estudo alemão nos dá uma amostra valiosa de como o CBD é percebido e utilizado no mundo real. Ele reforça que existe sim um potencial terapêutico, mas que ele não depende só da dose — depende da pessoa, do contexto, da crença e da forma de uso. CBD pode não ser uma bala mágica, mas é, para muitos, um instrumento valioso de autonomia e bem-estar.
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Referências que valem um mergulho
Esta meta-análise de estudos observacionais sobre epilepsia refratária comparou extratos ricos em CBD versus CBD puro. Ambos alcançaram similar taxa de “responders” (37 % para extratos ricos vs. 42 % para CBD puro, sem diferença estatística significativa), mas os extratos foram administrados em dose média menor (6 mg/kg/dia contra 25 mg/kg/dia) e tiveram menos efeitos adversos (mild AEs 76 % vs. 33 %; severe AEs 26 % vs. 7 %), sugerindo que compostos além do CBD isolado (efeito entourage) podem melhorar tolerabilidade e eficiência, embora isso precise ser confirmado em ensaios controlados .
Este estudo analisou respostas de mais de 200 usuários de CBD na Alemanha (maior faixa etária entre 41‑60 anos) que consumiam principalmente óleo (10–20 % de CBD), seguido por cápsulas, cosméticos e chás, com poucos usando flores ou gummies. A maioria fazia uso regular há mais de três meses, sem orientação médica, baseando‑se em fontes científicas e fóruns online. Cerca de 85 % relataram que o CBD foi “efetivo” ou “muito efetivo” — especialmente para dor (aguda e crônica), humor, ansiedade, sono e estresse — e 72 % não tiveram efeitos adversos (os 28 % restantes citaram, mais comumente, cansaço e boca seca, sobretudo em doses > 200 mg/mL). O estudo destaca que, na vida real, as doses usadas (50–150 mg/dia) são bem menores que as de ensaios clínicos (> 300 mg/dia), sugerindo uma combinação de efeito biológico e de expectativa (placebo) no benefício percebido